"Animação Cultural" de Vilém Flusser
À luz da objetologia,
corrente através da qual os objetos norteiam sua revolução no texto de Frusser,
pode-se dizer que esses seres inanimados têm, progressivamente, se afastado da
categoria de meros utensílios subordinados à humanidade e se aproximado de sua
objetividade. Nesse sentido, a cultura, esfera que
engloba todo e qualquer legado da sociedade, mostra-se como uma adversária ao
levante dos objetos não apenas pelos bens materiais que a compõem, mas,
principalmente, pelos valores e ensinamentos, os quais ultrapassam o campo do
palpável, indo de encontro com a Revolução dos inanimados, que tem como fim o
domínio dos objetos sobre os homens. Haja vista que diversos caracteres se
mantêm indissociáveis da essência humana e do processo por meio do qual ela se
fomentou, à exemplo da filosofia, da religiosidade e dos parâmetros
ético-morais. Dizendo isso não nego a relevância dos objetos para as conquistas
evolutivas humanas tampouco a dependência de nossa construção cultural a eles,
já que muito do que consideramos patrimônio está intimamente ligado aos
objetos, como as artes plásticas, a arquitetura e a literatura. Mas, será mesmo
a revolução dos Objetos capaz de colocar por terra tudo isso que, até então, só
pode ser compreendido pela consciência humana?
Ainda assim, se levarmos em consideração a velocidade com a qual os
objetos têm tomado espaço em nossa rotina, perceberemos que a animalidade,
característica própria de seres animados, tem se manifestado junto à
objetividade em diversos objetos. A narradora do texto, uma mesa redonda, nos
convida a uma reflexão entorno dessa idéia suscitando o fato de que,
atualmente, muito objetos usados cotidianamente assumem papel animado em nossas
vidas, podendo ocupar espaços que anteriormente jamais imaginamos serem ocupados
por algo que não fosse o ser humano. Grande exemplo disso são os smartphones,
que assumem variadas funções que extrapolam a objetividade e funcionam quase
como uma extensão de nós mesmos. Mais além estão os softwares, que simulam com
fidelidade capacidades humanas e, em nosso lugar, servem às mais diversas áreas
do conhecimento.
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